museu histórico
de jaboticabal
A Turca
O nosso museu, além de contar muitas histórias, também possui muita história, antes de ser um museu, era a residência de uma senhora chamada Azizi Abigalil, conhecida na cidade como “Turca”. Imigrante de região dominada pelo Império Turco Otomano na época de seu nascimento (em torno de 1886), depoentes relatam que ela dizia ser da cidade de Beirute, atualmente no Líbano. No único documento oficial que o museu possui, a sua origem é indicada como “Arábia”.
Segundo contam, antes de chegar em Jaboticabal, Azizi já teria vivido no Brasil, com seu marido, na cidade de Macaé-RJ, onde tinham uma enorme loja. Quando ficou viúva, com três filhos, a Turca teria retornado à região onde nasceu e depois de falecer seu filho mais novo, de quase dois anos, viajou pela Europa residindo por um tempo na França. Neste país, Azizi já conhecia a Madre Lucia Maria (estudaram juntas em outros tempos) e a considerava uma grande amiga. A Madre, que veio para o Brasil para fundar o Colégio Santo André, em Jaboticabal, seria aquela que teria influenciado seu retorno ao país, desta vez para a cidade de Jaboticabal. Outra versão da história diz que Azizi não chegou a, de fato, deixar o Brasil. Após a morte de seu marido por febre amarela, ela teria tentado retornar, mas por conta do falecimento de seu filho mais novo, no caminho, desceu do navio no porto de Santos e, dessa vez, adentrou o estado de São Paulo, vindo residir em Jaboticabal.
Além dos relatos orais sobre Azizi, alguns documentos presentes no museu ajudam-nos a ter algumas pistas sobre sua trajetória. Uma certidão aponta a cidade de Capivary-RJ (atualmente Silva Jardim-RJ) como o local de registro do nascimento de sua primeira filha, Dolores, no ano de 1910. O Salvo-conduto de Azizi (documento que autoriza alguém a viajar e transitar livremente), retirado na cidade de Florianópolis-SC em novembro de 1925, indica seu retorno provável ao país neste período, ou ao menos seu deslocamento pelo litoral sul brasileiro. No documento também consta sua idade, 39 anos.
Chegada à cidade de Jaboticabal nesta época, Azizi deu início à construção de seu Palacete em algum momento entre os anos de 1926 e 1929, e para lá mudou-se antes mesmo das obras serem finalizadas. A planta original do casarão não foi encontrada até hoje, porém é sabido que a construção foi executada pelo empreiteiro e construtor José Fráguas, responsável também pela construção do Colégio Santo André, da Catedral de Nossa Senhora do Carmo e diversas casas residenciais em Jaboticabal.
O Palácio da Turca nunca foi finalizado, ao que parece os recursos terminaram antes da finalização da obra, porém, nele Azizi morou até o fim da sua vida. Alguns contam que apesar de ter sido projetada para ser habitada em três níveis (térreo, 1º e 2º pavimentos) a casa de Azizi não apresentava as lajes divisórias entre os andares, possuindo apenas uma escada externa nos fundos que dava acesso a um dormitório no 1º andar, que somado a uma cozinha e uma sala e um banheiro no térreo, eram os únicos cômodos habitáveis de todo casarão.
No Laudo de Avaliação do Imóvel, expedido pela Prefeitura Municipal de Jaboticabal no ano de 1974, consta o seguinte:
“1 – (hum) prédio constituído de 3 (três) pavimentos, inacabado, construídos em paredes de tijolo e meio e um tijolo, à vista, com pisos intermediários a serem executados em madeira, com escada a ser construída, sem revestimento e pintura interno, sem canalizações de água, e sem rede de luz.”
O aspecto pitoresco de um palácio majestoso, porém inacabado, escuro, sem pintura e ainda com tijolos aparentes, situado no centro da cidade, aliado à figura de uma senhora estrangeira, árabe, que se vestia sempre de preto (por conta de seu luto pelo marido e filho) deu origem a um imaginário de mistério que alimentou muitos rumores e especulações sobre a Turca e seu Palacete. Sua vizinha, D. Julieta, no entanto, conta que era uma senhora que gostava muito de criança e dos animais, que aparentava ser bem instruída, falava muito bem o português e era chamada na vizinhança por Turca ou D. Maria.
O que sabemos, de fato, é que Azizi Abigalil foi uma mulher que viveu e criou seus dois filhos, Dolores e Gandur, na casa que hoje é o nosso museu, na cidade de Jaboticabal. Faleceu no dia 31 de dezembro de 1972, três dias antes do falecimento de sua filha. E seu casarão ficou de herança para seu filho Gandur, que já não morava mais na cidade.
Em 1974, por meio de um Decreto Municipal, o prédio do Palacete foi declarado de utilidade pública e em seguida desapropriado (tornado bem público), passando a abrigar em 1979, o primeiro museu da cidade. Ganhou alguns nomes: “Museu de Arte e Histórico” de início, “Museu Histórico de Jaboticabal Aloísio de Almeida” o mais recente deles. Porém, a comunidade jaboticabalense nunca deixou de referenciá-lo como Palácio ou Casa da Turca, assim o fazem até hoje.